segunda-feira, agosto 22, 2011

TRADUZIR-SE (Ferreira Goulart)

Uma parte de mim é todo mundo
outra parte é ninguém, fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa e pondera
outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta
outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem
outra parte é linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte,
é uma questão de vida e morte,
Será arte? Será arte?

publicado em “Na Vertigem do Dia” (1975-1980)

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